No meu sangue há
Comerciantes austeros de suíças brancas e longas
Relógios de cordão de ouro e ar respeitável
(Talvez o fossem)
Um ar que se permitia pendurar-se
Nas paredes de pé direito muito alto
Em casas do século dezoito.
Trataram na ribeira das naus do que chegava do brasil da índia e
[das partes de áfrica
Alguns deixaram as mulheres e descobriram no regresso filhos
[com treze meses de gestação
Alguns deixaram as mulheres e descobriram-se pais de outros
[filhos em paragens distantes
Perdoai-lhes senhor
Que todos sabiam o que faziam.
Foram vizinhos do bernardo soares
Sem que o notassem
Estiveram cercados à fome pelos castelhanos em mil trezentos e
[oitenta e quatro
Circularam em contágio de curiosidade entre o carmo e o arsenal
[no vinte e cinco de abril
Sem espalhafato que a sua política era o trabalho
Vaguearam doidos varridos quando o grande terramoto lhes
[ruiu bens e família
Sobreviveram como puderam aos exércitos de bonaparte e à
[tropa de beresford.
Em lisboa há séculos
Pergunto(-me) o que são e de onde vieram.
Prosperaram e caíram
O triunfo não era da sua natureza
Acertavam quando calhava para tudo se desconjuntar na geração
[seguinte
Cabeças no ar e mau vinho
Importação de fruta exótica e lugares na praça da figueira
Prédios no bairro alto e campo de ourique habitação ao rossio
Cruzaram-se com o eça quando ia visitar os pais chegado de paris
Mas também não deram por isso.
Já ninguém mora nas casas pombalinas e o soalho deixou de
[ranger.
Desde então a família circula dispersa-se e desfaz-se.
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