segunda-feira, 2 de julho de 2012

FIM DE TARDE

Pássaros em bando a quem tivessem aberto as gaiolas
Frescas como a aragem que corre após um dia de trabalho
As lojistas passam em silêncio entrando
No fim de tarde de junho com os sacos
Cheios da tralha que só as mulheres usam
Algumas de óculos escuros outras
Cara a descoberto e cabelo apanhado
Vestidos de alças
Ombros nus que apetece beijar.

E eu
Vendo o desfile destas jovens mulheres
Chego a pensar que a vida é bela
Esquecendo por momentos os salários curtos
O horizonte estreito das suas existências
O futuro sem brilho que as espera.

Nada disso tem importância neste fim de tarde quente de junho
Soprando uma aragem que atinge em cheio rostos inexpressivamente belos
Tocados pela luz quase rasante de um sol-pôr
Por entre as frestas de casas muito velhas
Marcadas pelo verdete do inverno

Sintra, 27-VI-2012