sábado, 25 de outubro de 2014

maldição

Transforma-se em chumbo
Todo o ouro em que tocas.

É uma maldição que te guarda
Ou protege.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

FALO-TE DO FALO

Falas-me do falo
E eu fico sem fala
Da falta que te faz 
O falo
A porra do falo
Que num instante
Nos calaria.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

ocasional

O espanto pela dádiva rotineira de cada dia
O inesperado que me faz viver habitualmente
A surpresa do habitual quotidiano.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

A CURVA DA ESTRADA

Chegar aos 50 será
Boa surpresa   sem
Que fizesse grande
Coisa por isso   o desleixo
Apazigua mas que pague
   Duvido.

terça-feira, 22 de abril de 2014

GESTO ANTIGO

Era um gesto muito antigo o
Fechar das portadas quando
A noite vinha   um acto
Provincial nesse estoril à parte
Do tempo e fora do mundo
Português de então   como se
Avós e bisavós   mãe  eu  nós
Quiséssemos preservar o interior
Da casa   um ovo protector


quarta-feira, 19 de março de 2014

A PACIÊNCIA ESVAI-SE

E mirós e praxes e adopções e cataventos
Esvaindo-se-me a paciência com
Passagem pelos três buracos de françois hollande

segunda-feira, 17 de março de 2014

A GLIMPSE OF HAPPINESS

Alterno raul brandão e ruy belo
Transporte no tempo com el-rei junot
A melhor poesia em grande prosa 
Grande poesia que toda a prosa deveria ter

Morte e mais morte entre 
Tanta vertigem de fim é
Possível um frémito de 
Felicidade em tanta morte 
Cascais, 9.IX.2011

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

AI OS TRÊS

Era as praxes
Uma vez e os
Três buracos
Não do banco
Português de
Negócios nem
Seus oitenta e
Cinco mirós que
Nossos eram mas
Os três ai os três
Buracos do presidente
Francês.


4/14.II.2014

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

ASFALTO

Seca-te a garganta
A poeira que não sabes de onde vem
É o pó do deserto a entranhar-se
Nos teus canais   tu que passas
A vida a inspirar fumo dos escapes
Pois o asfalto foi a tua única aspiração.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

FIM DE TARDE

Um pinheiro gigantesco guarda a pequena piscina diante do varandim. A relva decliva. Abertas as portadas, nos caixilhos os vidros como espelhos. Um potro passa por fora da vedação. 18 e 15 do 15 de Setembro de 2013. Um estúpido galo canta. Ainda não sacrificadas pelos incêndios, cobrem de verde os montes copas de incontáveis árvores. Um motor ao longe, na estrada que liga terras de bouro à estância termal do gerês. Um camião, por vezes percebe-se, a transbordar a água do fastio que brota destes cerros. Oiço a voz e o piano da nina simone em little girl blue, disco sem mácula. Bebo café em chávena dupla e preparo-me para fumar. Deixo de escrever

sexta-feira, 26 de julho de 2013

NEM TUDO...

Nem tudo o que aqui fica merece o papel.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

DA MORTE EM VIDA

Eu digo-te como é
A cara dos que sofrem
Muito aqueles que
As tuas lágrimas não 
Salvam e haviam já morrido
Quando deste por eles. 

É a cara da
Surpresa pelo 
Limite do 
Suportável da
Existência há
Muito passada.

Eles vivem sem 
Querer viver contra 
Eles vivem e nós miramos
De longe o rosto 
Da dor a máscara
Da desesperança a
Morte em vida.


Outubro 2008



quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

QUASE TODOS

Lareira que me acolhe em
Novembro quase estranho
Numa sala do ribatejo mexe
Nemésio as mãos sábias e pose
De cão de estar na tv preta
E branca sobre um parapeito
Com estante e dezenas de
Livros da colecção vampiro.

Quentes as vozes dos anfitriões
E as nossas.

Quase todos mortos.

26/27-II-2013

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

DO MERECIMENTO

Rápida   esguia
Apanhado o cabelo   oh
Tão bem apanhado
Passas-me por baixo
Da janela e nem suspeitas
Que o vislumbre dos teus quadris
Adivinhados sob o longo casaco
Doutra época os sapatos dum
Castanho eduardino ou vitoriano
E o teu cabelo apanhado   oh
Tão bem apanhado   nem suspeitas
Me mereceram este poema.

19/21-II-2013

domingo, 17 de fevereiro de 2013

ÁRVORE -- atraiçoo Mario Benedetti

Era uma árvore sem nome que à noite
não em todas as noites mas em algumas
se tornava quase luminescente
como um tic vegetal da sua alegria

mas as corujas e os morcegos
as corujinhas e os mochos
ficavam tão perplexos
que desapareciam

e no entanto ela era assim
porque aquela árvore albergava
um sentimento em cada folha
e a luminescencia apenas era
a excitaçao do seu coração

numa noite de tempestade
um raio abrigou-se na sua copa
mas esta não apagou as suas luzes
e o raio desfez-se

há que ter em atenção
que em cada amanhecer
a árvore apagava-se
isto é dormia

às vezes despertava
cheia de passarinhos
mas não era a mesma coisa

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O QUE INTERESSA

Esmifra-te pá!

Instalado copo
Na mão cigarrilha
Entredentes tenho
O cinismo para tirar
O insuficiente do que
Escreves para existir.

Mantém-te pobre pá
Incorrupto e só
Só durante o tempo
Que o talento to permitir.

Não tenho a coragem
Do teu sofrimento se
Fores dos meus deixarás
Gargalo e mortalha e
Passarás empoltronado
Ao amor que  segura.

Passarás ao que interessa.

I/II - 2013

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

ESTORIL (CASA)

Uns partiam
Eu ficava
Outros eram presos
Eu ficava
Alguns morriam
E eu ficava.

Mundo fora 
Do mundo e fora 
Do tempo vestígio 
Único brilho de 
Empréstimo quando
Tudo à volta era 
Roto pobre e feio.

domingo, 23 de dezembro de 2012

DOS RESTOS DE HUMANIDADE

Como sobreviver
À merda que nos sai
Ao peido nauseante?

Beethoven traquejava
Eu sei isso alivia-me
Misericórdia porém

Como esquecê-lo quando
O mesmo chanel passa
Uma e outra vez e entumece?

Como não rir do patriarca
Em massagem de natal
Do pr nos votos de ano bom?

É fodido.
23-XII-2012

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

PRAIA

Praia.

Quando tudo era possível.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O QUE PASSA

Um sol morno que perfura as nuvens e te aquece
Uns seios que apetece trincar
O cheiro molhado da terra
O cão que te abana a cauda
O encontro no chegar a casa
A ilusão de óptica nas jantes dum carro inglês
Aquela frase que te saltou do livro
O verso que veio ter contigo
Um looping de avioneta no céu de cascais
Um vestido curto de fêmea
Uma bica com café do nabeiro
Um sax que não se sabe de onde vem.