segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O QUE PASSA

Um sol morno que perfura as nuvens e te aquece
Uns seios que apetece trincar
O cheiro molhado da terra
O cão que te abana a cauda
O encontro no chegar a casa
A ilusão de óptica nas jantes dum carro inglês
Aquela frase que te saltou do livro
O verso que veio ter contigo
Um looping de avioneta no céu de cascais
Um vestido curto de fêmea
Uma bica com café do nabeiro
Um sax que não se sabe de onde vem.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

CHUVA

E havia
Aquelas tardes de 
Outono quando 
chuva aparecia 
Sem avisar a praia 
Convidava ao puro 
Repouso sem outra 
Coisa em mente que 
Não o escorregar da 
Areia por entre os 
Dedos à cadência de 
Cada onda a 
Estatelar-se com
Estrondo.


Ficávamos 
Por ali, indiferentes 
À moinha, gratos 
Pelo que a vida 
Nos dava, sem 
Pedir nada em 
Troca.

Maio 2008

terça-feira, 30 de outubro de 2012

NUM COMENTÁRIO A NINA RIZZI

Mágica Rua dos Douradores, tão audível, tão palpável...

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

TARDES

O sol ainda aquecia pelas sete
Das tardes de setembro a praia
Estava por nossa conta e não
Queríamos voltar para casa 
Entrávamos na água com o
Estrondo ecoando no areal vazio.

Soltávamos insultos a nós e
Às nossas mães quebrávamos
Os interditos cheios de inocência.

A vileza vinha longe.

Maio, 2008

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

JORNAL

Ainda estava tudo para acontecer quando lias no diário de lisboa as tiras do tio carlos
As inundações de 67 o sismo de 69 o 25 de abril de 74
A vida já era complicada mas não ligavas grande coisa à vida. 

A vida  continua estranha e dás-lhe pouco cavaco
 te apetece pegar no diário de lisboa que já não existe 
E ir à procura de mais uma aventura do tio carlos.

Maio 2008 /
/ Outubro 2012



quinta-feira, 18 de outubro de 2012

YOU'RE GOING TO LOSE THAT GIRL

A timidez é uma fraqueza
Da alma a cobardia de ser.

Yes yes you’re going to lose that girl.

domingo, 14 de outubro de 2012

DA PERDA

As mães dão-nos (a)o mundo, e levam uma porção de nós com elas.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

MODO DE SER

À finura   prefiro a raça
À astúcia   a ingenuidade.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

EXORTAÇÃO

Se te detestas   porque não mudas?
 
Se não mudas   porque não acabas?

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

VARANDA

O rio e o porto o mar
Que se abre eu vejo-
-Os da mais alta varanda
Da lapa trafaria em frente painéis
De almada na gare marítima
Adivinhados para lá do corredor
Do rádio a voz de amália "cais
De outrora" podia tudo acabar
Neste agora outrora sem
Futuro e acabava bem.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

SE BOCAGE ME CHEGASSE

Se bocage me chegasse
Pelas bicas diárias
De nicola tanto padre
Tanto frade tanta freira
Tanta puta e josé agostinho
Oh tanta mama e tanto cu
Tanto bufo e poetiso tanta
Tia flausina do recanto
Mais sombrio da costa
Do sol se por bicas diárias
De nicola me chegasse
Bocage.

21-IX-2012

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

EMIGRANTES (1928)

Com delicadeza apertava o formato
19x12,3 das suas 336 páginas evitando
Apor os polegares sobre a desmaiada
Ilustração a duas cores do stuart era
A primeira edição que tinha em mãos.

Horrorizava-o a bibliofilia os livros melhores
Amigos tratados como vil mercadoria coisa
Diferente era este nos seus mais de 80 anos
Não conhecera o autor mas sabia que tudo
Mudara com ele e para ele mercê destas
336 páginas em formato 19x12,3.



sexta-feira, 7 de setembro de 2012

AS PUPILAS DO SENHOR REITOR

(a Liberto Cruz)

Recusas abandonar essas páginas
O estilo dúctil perfeito enganoso
Na aparência os dramas modelados
Pela elegância das frases rejeitas

A fealdade do presente a
Profanação da inocência
Das crianças o aviltamento
Escravo a prostituição dos
Coetâneos o lixo

Não largas o teu júlio dinis

Mas repara bem escava-lhe a prosa
Maviosa a doce prosódia das personagens
E lerás também a nudez forte da verdade
A miséria moral a velhacaria a cupidez.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

OUTRO DIA, UM ACENO


De pé em velha chata
Ao largo um vulto acena
E grita alto como um
Murmúrio mais não permite
O motor e o calor é muito.

«Olá chico!...» atirei.

Trocamos saudações
À tona a memória
Já antiga quando
Críamos eu e o Chico
A vida toda como
Um permanente
Acenar inocente.
1/2-VIII-2012

segunda-feira, 30 de julho de 2012

AUTOBIOGRAFIA autorizada

I

1964-1969 estoril
E cascais o mar
Lenços nas cabeças
Das senhoras carros
Compactos e redondos
Com frisos de metal
Um sol luminoso
A minha pequenez os cães 
Inocência.


II

1970-1979 cascais
E estoril as saias
Das mulheres
Jovens carros esguios
E descapotáveis
Um sol luminoso
Guitarra e voz
Inocência
Primeira visão da morte.


III

1980-1989 estoril
E cascais os corpos
Das raparigas carros
Velhos ferrugem
Um sol luminoso
Os cães a viagem 
Inocência.


IV

1990-1999 estoril
E cascais a minha mulher
Todas as mulheres a vida
O mar os meus livros os meus
Carros a adultês
Um sol luminoso
O desengano.


V

2000-2012 cascais
A morte a vida os carros
Os carros os carros
Um sol luminoso
Os cães
A paz.

ler(n)os outros #8

À mão
Esquece
(ética)
Intuição
Mote para uma folha que caiu, amarela, de uma árvore
Pescadores da Torreira (Cabrita Alta)
Poema Visual -- Ovíparo
Um Dia Parti

sexta-feira, 27 de julho de 2012

COMÉRCIO

Dava-lhe os poemas que escrevia.

Toma dizia fica com eles lê
E ela incauta não sabia
Que trazia água no bico es-
-Se injusto comércio da poesia.
27-VII-2012

quarta-feira, 25 de julho de 2012

INTERIOR EM NICE

Tudo me conduz a nice
O mar
O passeio dos ingleses sobre o mar
A varanda sobre o passeio dos ingleses sobre o mar
Essa portada de ripas verdes entreaberta a recordar
A maresia da infância.

Tudo me leva a nice
E a esse balcão onde
Me aguarda não sei
Se o amor não sei
Se a morte.

Mas tudo me conduz a nice.
23/25-VII-2012